sábado, 5 de maio de 2012

"Neblina" - Opinião de Luís Fialho - Jornal O Benfica

Neblina
O processo Apito Dourado mostrou-
-nos a forma como certos clubes se
movimentavam nos bastidores, e
traficavam influências com vista à
viciação de resultados desportivos.
Dirigentes desportivos recebiam
árbitros em casa nas vésperas de
jogos, ofereciam-lhes prostitutas
após os mesmos, adulteravam processos
disciplinares, instrumentalizavam
jornalistas, etc. Ficou à vista,
e ao ouvido, de todos, que havia
quem não olhasse a meios para atingir
os seus fins, que havia quem
fosse capaz de tudo para chegar às
vitórias. À semelhança do que aconteceu
em tantos outros casos no
nosso país, questões processuais
chocaram de frente com o apuramento
da verdade, e promoveram a
impunidade generalizada - aspecto
que serviu para o branqueamento
daquelas vitórias e daqueles títulos,
convidando, simultaneamente, a
que tais práticas continuassem, ou
até que se intensificassem.
A quem conheça um pouco da história
da corrupção no Desporto
internacional (e, infelizmente, já
houve vários e diferentes casos), não
surpreenderia também que a vertente
ligada à arbitragem, então desmascarada,
fosse apenas a ponta de
um iceberg onde outro tipo de elementos
se misturasse. Dito de outro
modo, quem acompanhe, por exemplo,
o Diclismo e os seus frequentes
casos de doping, sabe que o tipo de
controlo feito no Futebol não passa
de uma brincadeira de crianças, à
qual muitas práticas ilícitas, e
actualmente bastante sofisticadas,
podem facilmente escapar. E, quem
tenha lido alguma coisa sobre o
fenómeno das apostas ilegais (por
exemplo na Ásia, mas também na
Itália ou na Alemanha), perceberá
como a um defesa-central, ou a um
guarda-redes, é fácil fabricar um
resultado, prejudicando a própria
equipa, a troco de dinheiro, de um
contrato, de uma relação privilegiada
com determinado empresário, de
uma boa crítica num jornal, ou até
de uma ameaça.
Quem já se mostrou capaz de corromper,
e vive da impunidade de
um sistema judicial obsoleto, não
pode pois esperar as nossas felicitações,
mas sim a nossa desconfiança.

(Fonte e texto : Jornal O Benfica)

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